terça-feira, 8 de outubro de 2013

PALESTRANTES 2013

Gabriele Greggersen

Graduada em Pedagogia (Fe-USP), e em Teologia (Faculdade Teológica Sul Americana). Mestre e Doutora em Educação pela Universidade do Estado de São Paulo (USP), na linha de pesquisa Filosofia e Historia da Educação;Pós-Doutorado no Instituto de Estudos Avançados da USP. Atuou como docente e chefe de departamento dois departamentos na Universidade Mackenzie (SP). Integra o cadastro BASIS de avaliadores institucionais do INEP, e do Conselho Estadual de Educação de Santa Catarina. Atuou como colaboradora e conselheira do Instituto Malba Tahan, e como professora tutora de cursos de graduação a distância no Programa Universidade Aberta do Brasil, junto ao Instituto Federal de Santa Catarina. É autora de livros didáticos e tradutora dos idiomas alemão e inglês. Mais de dez livros traduzidos, além de artigos catálogos, manuais técnicos e artigos científicos. Tem experiência na área de Ensino Superior, com ênfase em Filosofia da Educação e Educação a Distância, atuando principalmente nos seguintes temas: educação a distância; criatividade; imaginação; tradução e autoria; didática; filosofia da educação; ética; formação de professores; literatura infantil (contos de fada); arte e literatura; educação de jovens e adultos; gestão do conhecimento; teologia e ciências da religião. É doutoranda no Programa de Estudos da Tradução na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).
http://lattes.cnpq.br/0260060318651073






Glauco Barreiras Magalhães Filho

Possui graduação (1993) e Mestrado em Direito pela Universidade Federal do Ceará (2000). É Livre Docente em Filosofia do Direito pela Universidade Vale do Acaraú (2006), Doutor em Sociologia pela UFC (2010), Doutor em Teologia (Faculdade Etnia), Doutor em Ministério (Faculdade de Teologia Metodista Livre) e Especialista em Teologia Histórica e Dogmática (FAERPI). Foi Coordenador de curso de Direito da Faculdade Gama Filho/ Faculdade Integrada Grande Fortaleza, Vice- Coordenador da Faculdade de Direito da UFC e Professor Assistente HA N. 6 da Universidade de Fortaleza, sendo atualmente Professor Adjunto II da Universidade Federal do Ceará, atuando principalmente nos seguinte temas: Filosofia do Direito, Hermenêutica jurídica, Teoria do Direito, Direitos Fundamentais e Imaginário Jurídico. É pesquisador da obra de C.S. Lewis, tendo escrito livros e feito várias palestras sobre a obra do literato inglês. É orientador (coordenador) do CEDIC (Centro de Estudos de Direito Constitucional) e membro da Academia Cearense de Letras Jurídicas desde a sua fundação, ocupando a cadeira 28, tendo José de Alencar por patrono. Em 2012, recebeu o título de "Doutor Honoris Causa" e "Humanista Universal" do SODIMA.
http://lattes.cnpq.br/4306521902540146






João Batista

Possui graduação em Letras pela Universidade Federal do Ceará (1994), mestrado em Lingüística pela Universidade Federal do Ceará (1998) e doutorado em Lingüística pela Universidade Federal do Ceará (2006). Atualmente é adjunto IX da Universidade Estadual do Ceará. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Língua Portuguesa, atuando principalmente nos seguintes temas: análise do discurso, ethos, gênero discursivo.
http://lattes.cnpq.br/3777385545958082






Ricardo Marques

Psicoterapeuta. Psicanalista Clínico (ANPC) e Neuropsicólogo (especialista/Unichristus). Educador. Biólogo (UFC). Paleontólogo (Directory of Palaeontolgists of the World). Zoólogo (World Directory of Primatologists). Astrobiólogo (University of Edinburgh). Mestre em Ciência (UFC). Formação em Psicobiologia (USP/UFC/SBNeC) e em Administração Educacional (PCU). Analista de Inteligência/Contra-Inteligência e consultor em Gestão do Conhecimento, tendo sido fundador e vice-presidente do Pólo-CE da Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento (SBGC) e membro da Associação Brasileira dos Analistas de Inteligência Competitiva (ABRAIC). Professor universitário, palestrante e consultor. Leciona Neurociências e outras disciplinas em cursos de pós-graduação em Neuropsicologia, Psicopedagogia, Formação de Professores e Formação de Gestores Educacionais. Membro da Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento (SBNeC), da International Mind, Brain and Education Society (IMBES) e do International Centre for Excellence in Emotionally Focused Therapy (ICEEFT).





Rui Martinho



Possui graduação em Odontologia pela Universidade Federal do Ceará (1972), graduação em Administração pela Universidade de Fortaleza (1981), graduação em Direito pela Universidade de Fortaleza (2001), mestrado em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (1990) e doutorado em História pela Universidade Federal de Pernambuco (2001). Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal do Ceará. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Filosofia da Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: educação, memória, história, disciplina e política.
http://lattes.cnpq.br/6748790925987177

sábado, 14 de setembro de 2013

Semana Lewis 2012 - Resumos

26/ 11 / 12

Título: A Sociedade que foge da dor
Palestrante: Ricardo B. Marques

Biólogo, neuropsicólogo, psicanalista clínico, educador e terapeuta. Estuda C.S.Lewis e sua obra há mais de 20 anos.

Resumo: Vivemos uma geração de intolerância à frustração, que nega a dor e rejeita o sofrimento. Uma sociedade do entretenimento, hedonista, que se refugia em remédios e na "felicidade artificial". Uma sociedade da recompensa imediata, da inconsequência, que não amadurece e jamais conhece a verdadeira superação e a cura. Quais as causas de tudo isso? Como lidar com tal situação? Como prevenir-se? O que C.S.Lewis pensava a respeito?



27 / 11 / 12

Título: Os estados do amor: líquido ou sólido?
Palestrante: Valney Veras

Resumo: O objetivo desta palestra é analisar a temática do amor a partir de C. S. Lewis, em sua relação com a perspectiva do amor líquido, na tentativa de obter um vislumbre de percepção das relações de amor na atualidade, e o quanto as relações humanas de amor são relevantes. O amor para C. S. Lewis é apresentado principalmente em sua obra “Os quatro amores”, onde ele classifica as formas de amor. O “Amor líquido” é o texto de Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, que escreve sobre assuntos referentes à contemporaneidade. Bauman apresenta um conceito pós-moderno de amor, onde destaca a fragilidade dos laços humanos, diferente do entendimento de lewis. “Os quatro amores” será contrastado com o “Amor líquido”, de modo a suscitar a questão: qual o estado do amor? 



28 / 11 / 12

Título: Os Princípios da Filosofia de C.S Lewis
Palestrante: Glauco Magalhães

Resumo: C. S. Lewis ensinou filosofia antes de ser professor de literatura e escritor de obras de fantasia e ficção científica. As suas aulas de literatura medieval e renascentista eram sempre acompanhadas da apresentação das visões de mundo que caracterizavam esses períodos, enquanto as suas produções literárias foram marcadas por reflexões filosóficas sobre as questões últimas da vida. A partir do exame de seus livros, procuraremos identificar a sua compreensão da distinção e aproximação entre mito e logos, a sua antropologia filosófica, a sua noção de ética, a sua teodiceia e os pressupostos de sua cosmovisão.



29 /11 /12

Título: O religioso na vida da geração do espetáculo
Palestrante: Valberth Veras

Resumo: Compreender o cenário religioso juvenil atual é uma tarefa complexa que extrapola o objetivo desse trabalho. Contudo, mesmo que tangenciando tal complexidade, sérias considerações podem ser realizadas sobre tal fenômeno social. O presente estudo visa analisar três propostas de religiosidade. A primeira é aquela adotada por jovens que afirmam não possuir uma religiosidade. A segunda, é incorporada por aqueles jovens que vivem o religioso de forma pós-moderna. Neste caso, o termo “geração do espetáculo” pode ser abrangente para englobar “a sociedade do consumo” e a “era do vazio”, ambos utilizados para pensar a sociedade em que vivemos. E por último, apresento a proposta de Lewis de uma religiosidade que é coerente com os fatos da vida real, que não é ingênua, não é uma fuga intelectual, mas uma proposta espiritual baseada numa cosmovisão que responde às questões teóricas e práticas da vida moderna e pós-moderna. Utilizarei a sociologia de George Simmel, Danièle Hervieu-Léger para pensar o conceito de religiosidade, e as obras “Milagres” e “Cristianismo Puro e Simples” para apresentar a proposta lewisiana de religiosidade.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Deus é Amor


"Quando o cristianismo diz que Deus ama o ser humano, isso quer dizer que Deus realmente ama o ser humano; não que ele tenha alguma preocupação “desinteressada” e totalmente indiferente ao nosso bem-estar. A verdade mais terrível e surpreendente é que nós somos objetos do seu amor. Você pediu um Deus amoroso: ele está aí. O grande espírito que você invocou com tanta sensibilidade, o “senhor de aspecto terrível”, existe mesmo. Não como algum velho bondoso e solene, desejoso de que você seja feliz à sua própria maneira; nem um magistrado filantrópico frio e consciente; tampouco um anfitrião que se sente responsável pelo conforto dos seus convidados. Trata-se antes do fogo consumidor dele mesmo: o amor que criou o mundo com o mesmo cuidado persistente de um artista pela sua obra e despótico como o amor de um homem por seu cachorro, providente e venerável como o amor de um pai por seu filho, ciumento, inexorável e exigente como o amor entre os amantes. Como isso deve acontecer, eu não sei. A razão por que qualquer criatura, sem falar de criaturas como nós, deveria ter um valor assim tão prodigioso aos olhos do Criador extrapola a nossa capacidade racional. Trata-se certamente de um fardo ou peso de glória que não vai apenas além dos nossos desertos, mas, salvo raros momentos de graça, além dos nossos desejos. Temos a mesma tendência das senhoras daquela peça antiga que desaprovaram o amor de Zeus. Mas o fato parece inquestionável."

C.S. Lewis em O problema do sofrimento

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Bulverismo, ou os fundamentos do pensamento do século XX


por  C. S. Lewis


É necessário mostrar que um homem está errado antes de começar a explicar porque ele está errado.

Nota do tradutor – Este talvez seja o texto curto mais famoso de Lewis. Nele o autor identifica o que pode ser considerado um novo estratagema erístico, que Schopenhauer não descreveu em seu famoso tratado sobre a técnica de ganhar uma discussão, mesmo sem ter razão. [*] Ele não poderia fazê-lo, pois o bulverismo alimenta-se da psicanálise e do marxismo para sobreviver, duas coisas que não existiam na época do filósofo alemão. O tema geral deste texto é mais bem desenvolvido no capítulo terceiro (A principal dificuldade do Naturalismo) do livro de Lewis intitulado “Milagres”. Lá o autor desenvolve com mais vagar seus argumentos sobre a Razão, o pensamento e os eventos físicos em geral.

***

É desastrosa, como diz Emerson, a descoberta de que existimos. Quero dizer, é desastrosa quando, ao invés de atentarmos para a rosa, somos forçados a pensar em nós observando a rosa, com um certo tipo de mente e um certo tipo de olhos. É desastroso porque, se você não for muito cuidadoso, a cor da rosa acaba sendo atribuída ao nosso nervo ótico e seu perfume ao nosso nariz e, no final, não sobra nenhuma rosa. Os filósofos profissionais têm se preocupado com esse blackout universal por duzentos anos e o mundo não tem dado ouvido a eles. Mas, o mesmo desastre está agora acontecendo em um nível que todos nós podemos entender.

Descobrimos recentemente que nós “existimos” em dois novos sentidos. Os freudianos descobriram que existimos como feixes de complexos. Os marxistas descobriram que existimos como membros de alguma classe econômica. Antigamente, supunha-se que se uma coisa parecia obviamente verdadeira a cem homens, então ela era provavelmente verdadeira de fato. Hoje em dia, o freudiano dirá que temos de analisar os cem indivíduos: descobriremos que eles consideram Elizabeth I uma grande rainha porque todos eles têm um complexo materno. Seus pensamentos são psicologicamente deformados na fonte. E o marxista dirá que temos de examinar os interesses econômicos das cem pessoas: descobriremos que todos consideram a liberdade uma boa coisa porque eles são todos membros da burguesia cuja prosperidade cresce sob a política do laissez-faire. Seus pensamentos são “ideologicamente distorcidos” na fonte.

Ora, isso é obviamente muito engraçado; mas, nem sempre se nota que há um preço a pagar por isso. Há duas questões que devemos formular às pessoas que dizem tais coisas. A primeira é: todos os pensamentos são, então, distorcidos na fonte ou apenas alguns? A segunda é: a distorção invalida o pensamento – no sentido de torná-lo inútil – ou não?

Se eles disserem que todos os pensamentos são assim distorcidos, então, claramente, devemos lembrá-los que as teorias freudiana e marxista são sistemas de pensamento tanto quanto a teologia cristã e o idealismo filosófico. Todas essas teorias estão no mesmo barco em que nos encontramos e não podem nos tecer críticas desde o exterior. Eles serraram o galho em que estavam sentados. Se, por outro lado, eles disserem que a distorção não invalida necessariamente o pensamento deles, então ela também não invalida o nosso. Nesse caso, eles salvarão o próprio galho mas também salvarão o nosso.

O único caminho que eles podem realmente tomar é dizer que alguns pensamentos são distorcidos e outros não – o que tem a vantagem (se freudianos e marxistas considerarem isso uma vantagem) de ser o que todos os homens sãos sempre acreditaram. Mas, se é assim, devemos perguntar como se faz para descobrir quais são distorcidos e quais não são. Não adianta dizer que os distorcidos são aqueles que concordam como os desejos secretos do pensante. Algumas das coisas que eu desejo devem ser verdadeiras; é impossível organizar um universo que contradiz cada desejo de alguém, em todos os aspectos, o tempo todo. Suponha que, depois de fazer muita conta, eu imagino que tenho um grande saldo bancário. E suponha que você queira descobrir se minha crença é “wishful thinking”. Você não chegará a nenhuma conclusão apenas examinando minha condição psicológica. Sua única chance é sentar e rever meus cálculos. Quando isso acontecer, então, e somente então, você saberá se eu tenho aquele saldo ou não. Se você concluir que minha aritmética está certa, então qualquer quantidade de ilações sobre minha condição psicológica só será uma grande perda de tempo. Se você descobrir que meus cálculos estão errados, então pode ser relevante uma explicação psicológica sobre como eu pude ser tão ignorante em matemática, e a doutrina do desejo secreto se tornará importante – mas, somente depois de você ter feito a soma e descoberto, em bases puramente matemáticas, meu erro. Acontece o mesmo com todo o pensamento e com todos os sistemas de pensamento. Se você tenta descobrir qual está distorcido por meio de especulações sobre os desejos dos pensantes, você está meramente se enganando. Você deve primeiro descobrir, em bases puramente lógicas, qual deles de fato pode ser reduzido a argumentos. Depois, se você quiser continue e descubra as causas psicológicas do erro.

Em outras palavras, você deve mostrar que um homem está errado antes de começar a explicar porque ele está errado. O método moderno assume, sem discussão, que ele está errado e então distrai sua atenção disso (a única questão real) por meio de uma prolixa explicação de como ele se tornou tão tolo. No curso dos últimos quinze anos tenho descoberto que esse vício é tão comum que eu inventei um nome para ele. Eu o chamo Bulverismo. Algum dia eu vou escrever a biografia de seu inventor imaginário, Ezekiel Bulver, cujo destino foi determinado quando ele tinha 5 anos de idade e ouviu sua mãe dizer ao seu pai – que afirmava que a soma do comprimento dos dois lados de um triângulo era maior que o comprimento do terceiro – “Ah, você diz isso porque você é um homem”. “Naquele momento”, E. Bulver nos conta, “como um facho de luz, a grande verdade atingiu minha mente receptiva: a refutação não é uma parte necessária de um argumento. Suponha que seu oponente esteja errado e que, então, você explique o erro dele. O mundo estará a seus pés. Tente provar que ele está errado e o dinamismo nacional de nosso tempo lançará vo cê contra a parede”. Foi assim que Bulver se tornou um dos construtores do Século XX.

Encontro os frutos de sua descoberta em todo o lugar. Assim, vejo minha religião rejeitada sob o argumento de que ‘o pároco de vida confortável tinha toda a razão de assegurar ao trabalhador do século XIX de que a pobreza seria recompensada num outro mundo’. Bem, sem dúvida ele tinha. Supondo que o cristianismo seja errado, posso ver muito bem que alguns ainda teriam um motivo para inculcar tal idéia. Vejo isso tão facilmente que posso, claro, inverter a coisa e dizer: ‘o homem moderno tem toda a razão para tentar convencer-se de que não há nenhuma sanção eterna por trás da moralidade que ele rejeita’. Pois, o bulverismo é um jogo verdadeiramente democrático no sentido de que todos podem jogá-lo o tempo todo e de que ele não trata injustamente a pequena e ofensiva minoria que o joga. Mas, claro está que ele não nos aproxima sequer um milímetro da conclusão a respeito da falsidade ou verdade do cristianismo. Essa questão permanece em aberto para ser discutida em bases muito diferentes – utilizando-se argumentos históricos e filosóficos. Qualquer que seja a decisão, os motivos impróprios da crença ou descrença permanecerão intocados.

Até que o bulverismo seja vencido, a razão não pode ter nenhum papel nas questões humanas.

Vejo o bulverismo em funcionamento em todo argumento político. Os capitalistas devem ser maus economistas, pois sabemos porque eles querem o capitalismo. Igualmente, os comunistas devem ser maus economistas, pois sabemos porque eles querem o comunismo. Assim, há bulveristas de ambos os lados. Na realidade, ou as doutrinas dos capitalistas são falsas, ou as doutrinas dos comunistas são falsas ou ambas são falsas; mas você só pode descobrir os erros e os acertos por meio do raciocínio – nunca por meio de grosserias a respeito da psicologia do seu oponente.

Até que o bulverismo seja vencido, a razão não pode ter nenhum papel nas questões humanas. Cada lado agarra-se ao bulverismo como uma arma contra o outro; entre os dois, a própria razão é desacreditada. E por que não seria? Seria fácil, em resposta, mostrar o estado presente do mundo mas a resposta real é ainda mais imediata. As forças que desacreditam a razão, elas próprias dependem da razão. Você raciocina mesmo quando bulverisa. Você está tentando provar que todas as provas são inválidas. Se você falhar, você falhou. Se você tiver sucesso, então você falha ainda mais – pois a prova de que todas as provas são inválidas deve ser, ela própria, inválida.

A alternativa seria ou uma completa idiotice auto-contraditória ou então, uma crença tenaz no nosso poder de raciocínio, mantido a unhas e dentes diante de toda evidência que os bulveristas pudessem trazer de uma ‘distorção’ neste ou naquele raciocínio humano. Estou pronto a admitir, se você quiser, que essa crença tenaz tem algo de transcendental ou místico. E daí? Você preferiria ser um lunático ao invés de um místico?

Assim, vemos que há justificativa para nos atermos à crença na Razão. Mas, isso pode ser feito sem o teísmo? A expressão “Eu conheço” não implica que Deus existe? Tudo que conheço é uma inferência da sensação (exceto o momento presente). Todo o nosso conhecimento do universo, além de nossa experiência imediata, depende de inferências dessas experiências. Se nossas inferências não nos dão uma genuína apreensão da realidade, então nada podemos conhecer. Uma teoria não pode ser aceita se não permite que nosso raciocínio nos leve a uma genuína apreensão, nem tampouco se o nosso conhecimento não for explicável em termos dessa teoria.

Mas, nossos pensamentos só podem ser aceitos como apreensões genuínas sob certas circunstâncias. Todas as crenças têm causas, mas uma distinção há de ser feita entre (1) as causas ordinárias e (2) um tipo especial de causa chamada “uma razão”. Causas são eventos inconscientes que podem produzir outros resultados além de crenças. Razões surgem de axiomas e inferências e afetam nossas crenças. O bulverismo tenta mostrar que outro homem tem causas e não razões e que nós temos razões e não causas. Uma crença que pode ser explicada inteiramente em termos de causas é inútil. Esse princípio não deve ser abandonado quando consideramos as crenças que são os fundamentos de outras. Nosso conhecimento depende de nossa certeza sobre axiomas e inferências. Se esses são resultados de causas, então não há possibilidade de conhecimento. Ou não podemos conhecer nada ou o pensamento tem apenas razões e não causas.

[O resto deste ensaio, que foi originalmente lido no Clube Socrático antes da publicação no Socratic Digest, continua na forma de notas tomadas pelo secretário do clube. Isso explica porque ele não é todo na primeira pessoa, como o texto até aqui.]

Pode-se argumentar, continuou o sr. Lewis, que a razão evoluiu por seleção natural e que somente os métodos de raciocínio que se provaram úteis sobreviveram. Mas a teoria depende de uma inferência que ligue a utilidade à verdade, cuja validade deve ser suposta. Todas as tentativas de tratar o pensamento como um evento natural envolvem a falácia de excluir o pensamento do indivíduo que faz a tentativa.

Admite-se que a mente é afetada por eventos físicos; um aparelho eletrônico é influenciado por eventos atmosféricos, mas não os causa – não notaremos isso se pensarmos o contrário. Podemos relacionar eventos naturais uns com os outros numa seqüência contínua no espaço-tempo. Mas o pensamento não tem outro pai a não ser o pensamento. Ele é condicionado, sem dúvida, mas não tem causa. Meu conhecimento de que estou ansioso é gerado por inferência.

O mesmo argumento aplica-se aos nossos valores, que são afetados por fatores sociais, mas se estes causam aqueles, nunca poderemos saber se eles (os valores) são certos. Pode-se rejeitar a moralidade como uma ilusão, mas o indivíduo que faz isso o faz freqüentemente excetuando seu próprio motivo ético tacitamente: por exemplo, no caso da tentativa de libertar a moralidade da superstição e de difundir a ilustração.

Nem a Vontade nem a Razão são produtos da Natureza. Portanto, ou eu sou auto-existente (uma crença que ninguém pode aceitar) ou eu sou dependente de algum Pensamento ou Vontade que é auto-existente. Tal razão e bondade que podemos atingir devem derivar de uma Razão e uma Bondade auto-existentes fora de nós, na realidade, uma Razão e uma Bondade Sobrenaturais.

O sr. Lewis continuou dizendo que é comum se argumentar que a existência do Sobrenatural é excessivamente importante para ser discernível apenas por argumentos abstratos e que, dessa forma, apenas alguns poucos desocupados podem fazê-lo. Mas, em todas as outras eras o homem comum tem aceitado as descobertas dos místicos e dos filósofos para a formulação de sua crença inicial no Sobrenatural. Atualmente, o homem é forçado, ele próprio, a carregar aquele peso. Ou a humanidade cometeu um terrível erro em rejeitar a autoridade, ou o poder(es) que controla(m) seu destino está (ão) fazendo um ousado experimento, e estamos todos no caminho de nos tornarmos sábios. Uma sociedade que consista apenas de homens comuns está fadada ao desastre. Se vamos sobreviver, devemos ou acreditar nos homens de visão ou escalar as alturas nós próprios.

Evidentemente então, algo além da Natureza existe. O homem está na linha limite entre o Natural e o Sobrenatural. Os event os materiais não podem produzir atividade espiritual, mas esta pode ser responsável por muitas de nossas ações na Natureza. A Vontade e a Razão não podem depender de nada a não ser delas próprias, mas a Natureza pode depender da Vontade e da Razão ou, em outras palavras, Deus criou a Natureza.

A relação entre a Natureza e o Sobrenatural, que não é uma relação no espaço e no tempo, torna-se inteligível se o Sobrenatural tiver feito o Natural. Temos até uma idéia disso, pois conhecemos o poder da imaginação, apesar de não podermos criar nada novo, mas podemos rearranjar o material absorvido pelos sentidos. Não é inconcebível que o universo tenha sido criado por uma Imaginação forte o suficiente para impor os fenômenos em nossas mentes.

Sugere-se, o sr. Lewis conclui, que nossas idéias do fazer e do causar são inteiramente derivadas de nossa experiência da vontade. A conclusão que usualmente se tira é que não há o fazer ou o causar, apenas “projeção”. Mas, “projeção” é em si uma forma de causar e é mais razoável supor que a Vontade é a única causa que conhecemos e que, portanto, a Vontade é a causa da Natureza.

Uma discussão se segue. Alguns pontos levantados:

Todo o raciocínio supõe a hipótese de que a inferência é válida. A inferência correta é auto-evidente.

“Relevante” (re-evidente) é um termo racional.

O universo não alega ser verdadeiro: ele apenas existe.

Conhecimento por revelação é mais conhecimento empírico do que racional.

Pergunta : Qual é o critério da verdade, se você distingue entre causa e razão?

Sr. Lewis: Um país montanhoso deve ter muitos mapas. Apenas um é verdadeiro, isto é, apenas um corresponde aos contornos reais. O mapa feito pela Razão alega ser o verdadeiro. Eu não poderia perceber o universo a menos que eu pudesse confiar em minha razão. Se não pudéssemos confiar na inferência não poderíamos conhecer nada, exceto nossa própria existência. A realidade física é uma inferência de nossas sensações.

Pergunta: Como um axioma pode ser mais auto-evidente do que um juízo baseado em evidência empírica?

[Este ensaio termina aqui, deixando essa questão sem resposta.]


Notas:

Texto originalmente publicado no livro God in the Dock.

Tradução: Antonio Emílio Angueth de Araújo

[*] Ver, Como Vencer um Debate sem Ter Razão: em 38 estratagemas, Introdução, Notas e Comentários de Olavo de Carvalho, Topbooks, 1997.




terça-feira, 27 de novembro de 2012

Amar é ser vulnerável


"Amar é ser vulnerável. Ame qualquer coisa e seu coração irá certamente ser espremido e possivelmente partido. Se quiser ter a certeza de mantê-lo intacto, não deve dá-lo a ninguém, nem mesmo a um animal. Envolva-o cuidadosamente em passatempos e pequenos confortos, evite todos os envolvimentos, feche-o com segurança no esquife ou no caixão do seu egoísmo. Mas nesse esquife - seguro, sombrio, imóvel, sufocante - ele irá mudar. Não será quebrado, mas vai tornar-se inquebrável, impenetrável, irredimível. A alternativa para a tragédia, ou pelo menos para o risco da tragédia é a danação. O único lugar fora do céu onde você pode manter-se perfeitamente seguro contra todos os perigos e perturbações do amor é o inferno."

C. S. Lewis em Os Quatro Amores

sábado, 24 de novembro de 2012

C.S. Lewis ganha placa em Londres

Conhecido por ter criado o universo dos livros As Crônicas de Nárnia, o escritor C.S. Lewis (1898-1963) será homenageado no Canto dos Poetas da Abadia de Westminster, em Londres. No local há placas para diversos autores reconhecidos, entre eles John Keats, William Blake e T.S. Eliot.


O nome de Lewis estará gravado em uma tabuleta de pedra que será inaugurada no 22 de novembro do próximo ano, quando serão lembrados os 50 anos de morte do autor irlandês. A série As Crônicas de Nárnia, cujo primeiro volume foi lançado em 1950, já vendeu mais 100 milhões de cópias, em 47 línguas.

Fonte: Estadão