quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Deus é Amor


"Quando o cristianismo diz que Deus ama o ser humano, isso quer dizer que Deus realmente ama o ser humano; não que ele tenha alguma preocupação “desinteressada” e totalmente indiferente ao nosso bem-estar. A verdade mais terrível e surpreendente é que nós somos objetos do seu amor. Você pediu um Deus amoroso: ele está aí. O grande espírito que você invocou com tanta sensibilidade, o “senhor de aspecto terrível”, existe mesmo. Não como algum velho bondoso e solene, desejoso de que você seja feliz à sua própria maneira; nem um magistrado filantrópico frio e consciente; tampouco um anfitrião que se sente responsável pelo conforto dos seus convidados. Trata-se antes do fogo consumidor dele mesmo: o amor que criou o mundo com o mesmo cuidado persistente de um artista pela sua obra e despótico como o amor de um homem por seu cachorro, providente e venerável como o amor de um pai por seu filho, ciumento, inexorável e exigente como o amor entre os amantes. Como isso deve acontecer, eu não sei. A razão por que qualquer criatura, sem falar de criaturas como nós, deveria ter um valor assim tão prodigioso aos olhos do Criador extrapola a nossa capacidade racional. Trata-se certamente de um fardo ou peso de glória que não vai apenas além dos nossos desertos, mas, salvo raros momentos de graça, além dos nossos desejos. Temos a mesma tendência das senhoras daquela peça antiga que desaprovaram o amor de Zeus. Mas o fato parece inquestionável."

C.S. Lewis em O problema do sofrimento

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Bulverismo, ou os fundamentos do pensamento do século XX


por  C. S. Lewis


É necessário mostrar que um homem está errado antes de começar a explicar porque ele está errado.

Nota do tradutor – Este talvez seja o texto curto mais famoso de Lewis. Nele o autor identifica o que pode ser considerado um novo estratagema erístico, que Schopenhauer não descreveu em seu famoso tratado sobre a técnica de ganhar uma discussão, mesmo sem ter razão. [*] Ele não poderia fazê-lo, pois o bulverismo alimenta-se da psicanálise e do marxismo para sobreviver, duas coisas que não existiam na época do filósofo alemão. O tema geral deste texto é mais bem desenvolvido no capítulo terceiro (A principal dificuldade do Naturalismo) do livro de Lewis intitulado “Milagres”. Lá o autor desenvolve com mais vagar seus argumentos sobre a Razão, o pensamento e os eventos físicos em geral.

***

É desastrosa, como diz Emerson, a descoberta de que existimos. Quero dizer, é desastrosa quando, ao invés de atentarmos para a rosa, somos forçados a pensar em nós observando a rosa, com um certo tipo de mente e um certo tipo de olhos. É desastroso porque, se você não for muito cuidadoso, a cor da rosa acaba sendo atribuída ao nosso nervo ótico e seu perfume ao nosso nariz e, no final, não sobra nenhuma rosa. Os filósofos profissionais têm se preocupado com esse blackout universal por duzentos anos e o mundo não tem dado ouvido a eles. Mas, o mesmo desastre está agora acontecendo em um nível que todos nós podemos entender.

Descobrimos recentemente que nós “existimos” em dois novos sentidos. Os freudianos descobriram que existimos como feixes de complexos. Os marxistas descobriram que existimos como membros de alguma classe econômica. Antigamente, supunha-se que se uma coisa parecia obviamente verdadeira a cem homens, então ela era provavelmente verdadeira de fato. Hoje em dia, o freudiano dirá que temos de analisar os cem indivíduos: descobriremos que eles consideram Elizabeth I uma grande rainha porque todos eles têm um complexo materno. Seus pensamentos são psicologicamente deformados na fonte. E o marxista dirá que temos de examinar os interesses econômicos das cem pessoas: descobriremos que todos consideram a liberdade uma boa coisa porque eles são todos membros da burguesia cuja prosperidade cresce sob a política do laissez-faire. Seus pensamentos são “ideologicamente distorcidos” na fonte.

Ora, isso é obviamente muito engraçado; mas, nem sempre se nota que há um preço a pagar por isso. Há duas questões que devemos formular às pessoas que dizem tais coisas. A primeira é: todos os pensamentos são, então, distorcidos na fonte ou apenas alguns? A segunda é: a distorção invalida o pensamento – no sentido de torná-lo inútil – ou não?

Se eles disserem que todos os pensamentos são assim distorcidos, então, claramente, devemos lembrá-los que as teorias freudiana e marxista são sistemas de pensamento tanto quanto a teologia cristã e o idealismo filosófico. Todas essas teorias estão no mesmo barco em que nos encontramos e não podem nos tecer críticas desde o exterior. Eles serraram o galho em que estavam sentados. Se, por outro lado, eles disserem que a distorção não invalida necessariamente o pensamento deles, então ela também não invalida o nosso. Nesse caso, eles salvarão o próprio galho mas também salvarão o nosso.

O único caminho que eles podem realmente tomar é dizer que alguns pensamentos são distorcidos e outros não – o que tem a vantagem (se freudianos e marxistas considerarem isso uma vantagem) de ser o que todos os homens sãos sempre acreditaram. Mas, se é assim, devemos perguntar como se faz para descobrir quais são distorcidos e quais não são. Não adianta dizer que os distorcidos são aqueles que concordam como os desejos secretos do pensante. Algumas das coisas que eu desejo devem ser verdadeiras; é impossível organizar um universo que contradiz cada desejo de alguém, em todos os aspectos, o tempo todo. Suponha que, depois de fazer muita conta, eu imagino que tenho um grande saldo bancário. E suponha que você queira descobrir se minha crença é “wishful thinking”. Você não chegará a nenhuma conclusão apenas examinando minha condição psicológica. Sua única chance é sentar e rever meus cálculos. Quando isso acontecer, então, e somente então, você saberá se eu tenho aquele saldo ou não. Se você concluir que minha aritmética está certa, então qualquer quantidade de ilações sobre minha condição psicológica só será uma grande perda de tempo. Se você descobrir que meus cálculos estão errados, então pode ser relevante uma explicação psicológica sobre como eu pude ser tão ignorante em matemática, e a doutrina do desejo secreto se tornará importante – mas, somente depois de você ter feito a soma e descoberto, em bases puramente matemáticas, meu erro. Acontece o mesmo com todo o pensamento e com todos os sistemas de pensamento. Se você tenta descobrir qual está distorcido por meio de especulações sobre os desejos dos pensantes, você está meramente se enganando. Você deve primeiro descobrir, em bases puramente lógicas, qual deles de fato pode ser reduzido a argumentos. Depois, se você quiser continue e descubra as causas psicológicas do erro.

Em outras palavras, você deve mostrar que um homem está errado antes de começar a explicar porque ele está errado. O método moderno assume, sem discussão, que ele está errado e então distrai sua atenção disso (a única questão real) por meio de uma prolixa explicação de como ele se tornou tão tolo. No curso dos últimos quinze anos tenho descoberto que esse vício é tão comum que eu inventei um nome para ele. Eu o chamo Bulverismo. Algum dia eu vou escrever a biografia de seu inventor imaginário, Ezekiel Bulver, cujo destino foi determinado quando ele tinha 5 anos de idade e ouviu sua mãe dizer ao seu pai – que afirmava que a soma do comprimento dos dois lados de um triângulo era maior que o comprimento do terceiro – “Ah, você diz isso porque você é um homem”. “Naquele momento”, E. Bulver nos conta, “como um facho de luz, a grande verdade atingiu minha mente receptiva: a refutação não é uma parte necessária de um argumento. Suponha que seu oponente esteja errado e que, então, você explique o erro dele. O mundo estará a seus pés. Tente provar que ele está errado e o dinamismo nacional de nosso tempo lançará vo cê contra a parede”. Foi assim que Bulver se tornou um dos construtores do Século XX.

Encontro os frutos de sua descoberta em todo o lugar. Assim, vejo minha religião rejeitada sob o argumento de que ‘o pároco de vida confortável tinha toda a razão de assegurar ao trabalhador do século XIX de que a pobreza seria recompensada num outro mundo’. Bem, sem dúvida ele tinha. Supondo que o cristianismo seja errado, posso ver muito bem que alguns ainda teriam um motivo para inculcar tal idéia. Vejo isso tão facilmente que posso, claro, inverter a coisa e dizer: ‘o homem moderno tem toda a razão para tentar convencer-se de que não há nenhuma sanção eterna por trás da moralidade que ele rejeita’. Pois, o bulverismo é um jogo verdadeiramente democrático no sentido de que todos podem jogá-lo o tempo todo e de que ele não trata injustamente a pequena e ofensiva minoria que o joga. Mas, claro está que ele não nos aproxima sequer um milímetro da conclusão a respeito da falsidade ou verdade do cristianismo. Essa questão permanece em aberto para ser discutida em bases muito diferentes – utilizando-se argumentos históricos e filosóficos. Qualquer que seja a decisão, os motivos impróprios da crença ou descrença permanecerão intocados.

Até que o bulverismo seja vencido, a razão não pode ter nenhum papel nas questões humanas.

Vejo o bulverismo em funcionamento em todo argumento político. Os capitalistas devem ser maus economistas, pois sabemos porque eles querem o capitalismo. Igualmente, os comunistas devem ser maus economistas, pois sabemos porque eles querem o comunismo. Assim, há bulveristas de ambos os lados. Na realidade, ou as doutrinas dos capitalistas são falsas, ou as doutrinas dos comunistas são falsas ou ambas são falsas; mas você só pode descobrir os erros e os acertos por meio do raciocínio – nunca por meio de grosserias a respeito da psicologia do seu oponente.

Até que o bulverismo seja vencido, a razão não pode ter nenhum papel nas questões humanas. Cada lado agarra-se ao bulverismo como uma arma contra o outro; entre os dois, a própria razão é desacreditada. E por que não seria? Seria fácil, em resposta, mostrar o estado presente do mundo mas a resposta real é ainda mais imediata. As forças que desacreditam a razão, elas próprias dependem da razão. Você raciocina mesmo quando bulverisa. Você está tentando provar que todas as provas são inválidas. Se você falhar, você falhou. Se você tiver sucesso, então você falha ainda mais – pois a prova de que todas as provas são inválidas deve ser, ela própria, inválida.

A alternativa seria ou uma completa idiotice auto-contraditória ou então, uma crença tenaz no nosso poder de raciocínio, mantido a unhas e dentes diante de toda evidência que os bulveristas pudessem trazer de uma ‘distorção’ neste ou naquele raciocínio humano. Estou pronto a admitir, se você quiser, que essa crença tenaz tem algo de transcendental ou místico. E daí? Você preferiria ser um lunático ao invés de um místico?

Assim, vemos que há justificativa para nos atermos à crença na Razão. Mas, isso pode ser feito sem o teísmo? A expressão “Eu conheço” não implica que Deus existe? Tudo que conheço é uma inferência da sensação (exceto o momento presente). Todo o nosso conhecimento do universo, além de nossa experiência imediata, depende de inferências dessas experiências. Se nossas inferências não nos dão uma genuína apreensão da realidade, então nada podemos conhecer. Uma teoria não pode ser aceita se não permite que nosso raciocínio nos leve a uma genuína apreensão, nem tampouco se o nosso conhecimento não for explicável em termos dessa teoria.

Mas, nossos pensamentos só podem ser aceitos como apreensões genuínas sob certas circunstâncias. Todas as crenças têm causas, mas uma distinção há de ser feita entre (1) as causas ordinárias e (2) um tipo especial de causa chamada “uma razão”. Causas são eventos inconscientes que podem produzir outros resultados além de crenças. Razões surgem de axiomas e inferências e afetam nossas crenças. O bulverismo tenta mostrar que outro homem tem causas e não razões e que nós temos razões e não causas. Uma crença que pode ser explicada inteiramente em termos de causas é inútil. Esse princípio não deve ser abandonado quando consideramos as crenças que são os fundamentos de outras. Nosso conhecimento depende de nossa certeza sobre axiomas e inferências. Se esses são resultados de causas, então não há possibilidade de conhecimento. Ou não podemos conhecer nada ou o pensamento tem apenas razões e não causas.

[O resto deste ensaio, que foi originalmente lido no Clube Socrático antes da publicação no Socratic Digest, continua na forma de notas tomadas pelo secretário do clube. Isso explica porque ele não é todo na primeira pessoa, como o texto até aqui.]

Pode-se argumentar, continuou o sr. Lewis, que a razão evoluiu por seleção natural e que somente os métodos de raciocínio que se provaram úteis sobreviveram. Mas a teoria depende de uma inferência que ligue a utilidade à verdade, cuja validade deve ser suposta. Todas as tentativas de tratar o pensamento como um evento natural envolvem a falácia de excluir o pensamento do indivíduo que faz a tentativa.

Admite-se que a mente é afetada por eventos físicos; um aparelho eletrônico é influenciado por eventos atmosféricos, mas não os causa – não notaremos isso se pensarmos o contrário. Podemos relacionar eventos naturais uns com os outros numa seqüência contínua no espaço-tempo. Mas o pensamento não tem outro pai a não ser o pensamento. Ele é condicionado, sem dúvida, mas não tem causa. Meu conhecimento de que estou ansioso é gerado por inferência.

O mesmo argumento aplica-se aos nossos valores, que são afetados por fatores sociais, mas se estes causam aqueles, nunca poderemos saber se eles (os valores) são certos. Pode-se rejeitar a moralidade como uma ilusão, mas o indivíduo que faz isso o faz freqüentemente excetuando seu próprio motivo ético tacitamente: por exemplo, no caso da tentativa de libertar a moralidade da superstição e de difundir a ilustração.

Nem a Vontade nem a Razão são produtos da Natureza. Portanto, ou eu sou auto-existente (uma crença que ninguém pode aceitar) ou eu sou dependente de algum Pensamento ou Vontade que é auto-existente. Tal razão e bondade que podemos atingir devem derivar de uma Razão e uma Bondade auto-existentes fora de nós, na realidade, uma Razão e uma Bondade Sobrenaturais.

O sr. Lewis continuou dizendo que é comum se argumentar que a existência do Sobrenatural é excessivamente importante para ser discernível apenas por argumentos abstratos e que, dessa forma, apenas alguns poucos desocupados podem fazê-lo. Mas, em todas as outras eras o homem comum tem aceitado as descobertas dos místicos e dos filósofos para a formulação de sua crença inicial no Sobrenatural. Atualmente, o homem é forçado, ele próprio, a carregar aquele peso. Ou a humanidade cometeu um terrível erro em rejeitar a autoridade, ou o poder(es) que controla(m) seu destino está (ão) fazendo um ousado experimento, e estamos todos no caminho de nos tornarmos sábios. Uma sociedade que consista apenas de homens comuns está fadada ao desastre. Se vamos sobreviver, devemos ou acreditar nos homens de visão ou escalar as alturas nós próprios.

Evidentemente então, algo além da Natureza existe. O homem está na linha limite entre o Natural e o Sobrenatural. Os event os materiais não podem produzir atividade espiritual, mas esta pode ser responsável por muitas de nossas ações na Natureza. A Vontade e a Razão não podem depender de nada a não ser delas próprias, mas a Natureza pode depender da Vontade e da Razão ou, em outras palavras, Deus criou a Natureza.

A relação entre a Natureza e o Sobrenatural, que não é uma relação no espaço e no tempo, torna-se inteligível se o Sobrenatural tiver feito o Natural. Temos até uma idéia disso, pois conhecemos o poder da imaginação, apesar de não podermos criar nada novo, mas podemos rearranjar o material absorvido pelos sentidos. Não é inconcebível que o universo tenha sido criado por uma Imaginação forte o suficiente para impor os fenômenos em nossas mentes.

Sugere-se, o sr. Lewis conclui, que nossas idéias do fazer e do causar são inteiramente derivadas de nossa experiência da vontade. A conclusão que usualmente se tira é que não há o fazer ou o causar, apenas “projeção”. Mas, “projeção” é em si uma forma de causar e é mais razoável supor que a Vontade é a única causa que conhecemos e que, portanto, a Vontade é a causa da Natureza.

Uma discussão se segue. Alguns pontos levantados:

Todo o raciocínio supõe a hipótese de que a inferência é válida. A inferência correta é auto-evidente.

“Relevante” (re-evidente) é um termo racional.

O universo não alega ser verdadeiro: ele apenas existe.

Conhecimento por revelação é mais conhecimento empírico do que racional.

Pergunta : Qual é o critério da verdade, se você distingue entre causa e razão?

Sr. Lewis: Um país montanhoso deve ter muitos mapas. Apenas um é verdadeiro, isto é, apenas um corresponde aos contornos reais. O mapa feito pela Razão alega ser o verdadeiro. Eu não poderia perceber o universo a menos que eu pudesse confiar em minha razão. Se não pudéssemos confiar na inferência não poderíamos conhecer nada, exceto nossa própria existência. A realidade física é uma inferência de nossas sensações.

Pergunta: Como um axioma pode ser mais auto-evidente do que um juízo baseado em evidência empírica?

[Este ensaio termina aqui, deixando essa questão sem resposta.]


Notas:

Texto originalmente publicado no livro God in the Dock.

Tradução: Antonio Emílio Angueth de Araújo

[*] Ver, Como Vencer um Debate sem Ter Razão: em 38 estratagemas, Introdução, Notas e Comentários de Olavo de Carvalho, Topbooks, 1997.




terça-feira, 27 de novembro de 2012

Amar é ser vulnerável


"Amar é ser vulnerável. Ame qualquer coisa e seu coração irá certamente ser espremido e possivelmente partido. Se quiser ter a certeza de mantê-lo intacto, não deve dá-lo a ninguém, nem mesmo a um animal. Envolva-o cuidadosamente em passatempos e pequenos confortos, evite todos os envolvimentos, feche-o com segurança no esquife ou no caixão do seu egoísmo. Mas nesse esquife - seguro, sombrio, imóvel, sufocante - ele irá mudar. Não será quebrado, mas vai tornar-se inquebrável, impenetrável, irredimível. A alternativa para a tragédia, ou pelo menos para o risco da tragédia é a danação. O único lugar fora do céu onde você pode manter-se perfeitamente seguro contra todos os perigos e perturbações do amor é o inferno."

C. S. Lewis em Os Quatro Amores

sábado, 24 de novembro de 2012

C.S. Lewis ganha placa em Londres

Conhecido por ter criado o universo dos livros As Crônicas de Nárnia, o escritor C.S. Lewis (1898-1963) será homenageado no Canto dos Poetas da Abadia de Westminster, em Londres. No local há placas para diversos autores reconhecidos, entre eles John Keats, William Blake e T.S. Eliot.


O nome de Lewis estará gravado em uma tabuleta de pedra que será inaugurada no 22 de novembro do próximo ano, quando serão lembrados os 50 anos de morte do autor irlandês. A série As Crônicas de Nárnia, cujo primeiro volume foi lançado em 1950, já vendeu mais 100 milhões de cópias, em 47 línguas.

Fonte: Estadão

Traduzir ou não traduzir C.S. Lewis? Dedicatória à Semana C.S. Lewis 2012


Gabriele Greggersen

      Em 1998, quando se festejou o centenário do nascimento de C.S. Lewis, bati na porta de várias editoras com um projetinho para algum evento comemorativo e com propostas para tradução de vários livros. Mas a resposta que obtive foi: “Quem leria C.S. Lewis no Brasil?”

    De lá para cá, muita coisa mudou: Novas traduções surgiram de vários títulos pela editora Martins Fontes, de Surpreendido pela alegria (Editora Mundo Cristão), de Mero Cristianismo (Editora Quadrante), de vários títulos pela Editora Vida Nova, meus livros da Editora Vida (Pedagogia Cristã na obra de C.S. Lewis) e da Editora Mackenzie (Antropologia Filosófica de C.S. Lewis) e os dois títulos por mim traduzidos para a Editora Ultimato: Um Ano com C.S. Lewis e Deus em Questão. Mas é claro que os títulos da Martins Fontes, que lançou as Crônicas de Nárnia em grande estilo na Bienal do Livro do Rio de Janeiro em 1997, foram os mais importantes, pelo tamanho e alcance (distribuição) da editora.

Mas foi depois do lançamento dos filmes das Crônicas… no cinema que o nome de C.S. Lewis se tornou mais conhecido no Brasil, tanto ao público que gostou dos filmes, mas até agora não faz nenhuma relação com o cristianismo (cristão ou não), quanto daquele que fez a relação imediata, mas que nunca havia ouvido falar em C.S. Lewis. Entre os últimos encontram-se os criadores e administrador do portal Mundo Narnia, que se inspirou em Narnia para criar todo um mundo virtual.

Há também grupos lewisianos que já estudavam Lewis no Brasil desde 1965, dois anos após a morte do mestre, e de lá para cá se reuniam informalmente, mas que nunca haviam conseguido se organizar para institucionalizar um Grupo Oficial, só conseguindo alguma coisa a partir de seu ingresso na Internet (mais ou menos a partir de 2002), e hoje constituem uma verdadeira escola virtual, com centenas de artigos publicados na Rede e pelo menos 3 (três) livros publicados com base em Lewis ou falando sobre ele (todos publicados pelas editoras Agbook e Clube de Autores). Este grupo de 1965 chama-se Escola de Aprofundamento Teológico (EAT), e seu pessoal conta com três pastores e é dirigido pelo amigo narniano Prof. João Valente.

Finalmente, quem sabe, meu site <http://cslewis.com.br> também tenha contribuído de alguma forma para a popularização do autor e da obra, principalmente no meio acadêmico.

É preciso considerar que Lewis tem várias facetas, não apenas do escritor de livros imaginativos para todas as idades e apologista cristão. Ele também era um acadêmico de mão cheia na área de literatura, mas também, informalmente, nas de filosofia, teologia e educação.

Assim, no ano passado, fui surpreendida por uma nova missão: traduzir a obra acadêmica de C. S. Lewis para o português do Brasil. Trata-se de quatro livros, a começar pela sua dissertação de mestrado: A Alegoria do Amor, já lançado pela Editora É-realizações. Os próximos lançamentos serão: A Imagem Descartada, que é um estudo sobre a visão de mundo medieval via literatura; Estudos de Literatura Medieval e Renascentista; e Prefácio ao Paraíso Perdido, sobre a famosa obra de Milton, mas numa perspectiva comparativa.

Esse trabalho gerou várias reflexões da minha parte. Principalmente sobre a questão, se é difícil ou fácil traduzir C.S. Lewis, pergunta essa que é ainda mais importante no caso das suas obras mais “técnicas”.

Vou começar pelos seus aspectos “fáceis” de ler e traduzir: seu carisma, que chamaria até de verve; sua paixão pelo que ele conhecia e sabia fazer, e não era pouca coisa; seu lidar com as letras e com os autores; e sua clareza mental; seu equilíbrio e ponderação na argumentação; sua humildade e seu respeito pelo leitor. De uma maneira geral, o aspecto fácil está na própria simplicidade com que ele escreve, com insights regados de genialidade. O leitor sintonizado admira-se: “Nunca parei para pensar nisso” ou (aos ainda mais sintonizados) “sempre pensei isso” e depois “mas como foi que ele conseguiu expressá-lo de forma tão simples?”

A parte difícil da tradução da obra de C. S. Lewis, em especial, aquela, escrita para o meio acadêmico é a disparidade de linguagem e cultura entre o a academia brasileira e a inglesa da época dele. Lewis era poliglota e entre as línguas que ele dominava, estava o inglês médio (inglês da Idade Média), língua mais morta do que o latim, de forma que o tradutor tinha que fazer verdadeiros malabarismos para tentar decifrá-las. Sem falar de citações em latim, francês, italiano, britânico, saxônico e grego.

E mais: Lewis também usa um estilo que já não é mais usual, nem mesmo nos meios acadêmicos: Frases longas, com uso constante de pronomes, principalmente o “it” (gênero inexistente no português) até se perder de vista a que os mesmos se referem, e o uso de expressões idiomáticas. Todas essas dificuldades fizeram vários tradutores desistir da ousadia de traduzir esse autor, principalmente nessas obras.
Mas o que é fundamental, até para os editores que me lêem: a mensagem de C.S. Lewis sobrevive há décadas, não apenas no mundo cristão, mas até no secular e acadêmico. Digno de nota é a edição recente de An Experiment in Criticism, que foi traduzido pela UNESP para Um Experimento na Crítica Literária (2009), livro esse que já é citado em trabalhos e resenhas acadêmicas.

Você me dirá: “Mas eu não entendo nada de literatura, muito menos, da Medieval”, e eu lhe direi que o esforço por ingressar nesse universo será coroado de recompensas inesperadas da filosofia, da teologia e de muitas outras áreas interdisciplinares a cada página de cada um desses livros. E mais: Você sairá com um gosto mais apurado pela literatura ou quiçá até se apaixone por ela (e de quebra também pela filosofia e a teologia).

Então, esses livros traduzidos são a prova de que C.S. Lewis não é apenas um nome para veicular o cristianismo através de novos canais de comunicação, como faz crer um artigo recente, que tenta aproximar as suas estratégias à forma de comunicação e de marketing pós-moderna do neopentecostalismo brasileiro, as quais pouco ou nada têm a ver com os meios acadêmicos.

C.S. Lewis era um profissional e acadêmico com todas as letras, embora esse seu mérito tenha sido alcançado por ele apenas tardiamente em sua vida e por uma universidade (Cambridge), que não era a dele de origem (Oxford), coisa que essas universidades reconhecem hoje ter sido uma injustiça e um preconceito pela sua genialidade e popularidade nos meios não acadêmicos e cristãos.

Nessa semana em que lembramos particularmente do escritor e da obra, que é a que comemoramos todos os anos em novembro, mês em que ocorreu tanto o nascimento (dia 29 de novembro de 1898) e a morte (dia 22 de novembro de 1963) de C.S. Lewis, fica aqui a minha singela contribuição.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

C. S. Lewis Song

C. S. Lewis Song foi composta pela cantora neozelandesa Brooke Fraser. Sua fonte de inspiração foram os próprios textos lewisianos. O resultado não poderia ser outro: uma bela canção!


quinta-feira, 22 de novembro de 2012

O nascimento de um legado

Joemy Palhano

  Em 22 de novembro de 1963, morreu um dos maiores nomes da literatura do século XX, C. S. Lewis. 

  Sua morte passou despercebida para a maior parte das pessoas, pois neste mesmo dia, o presidente norte-americano, John F. Kennedy, foi assassinado. E neste mesmo dia, morreu também o escritor inglês, Aldous Huxley, autor de Admirável Mundo Novo. 

  Ainda que a morte de C. S. Lewis não tenha gerado "repercussões midiáticas", não podemos falar o mesmo do seu legado. Todos os anos, milhares de leitores passam a admirar o seu trabalho e milhões de exemplares das suas obras são vendidos por todo o mundo, e isso mesmo após quase 50 anos da sua morte!

  Esse dia cheio de "coincidências" (ou não) serviu de inspiração para o livro "O Diálogo – Um debate além da morte entre John F. Kennedy, C. S. Lewis e Aldous Huxley", de Peter Kreeft, no qual os três ilustres mortos se encontram em algum lugar do Além e debatem sobre as visões religiosas mais influentes do seu tempo: o teísmo (representado por Lewis), o humanismo (Kennedy) e o panteísmo (Huxley). Isso mostra que seu legado ainda está bem vivo.

  Para os fãs e admiradores ao redor do mundo, a Semana C. S. Lewis começa hoje (22/11 - dia de sua morte) e vai até o dia 29/11 (dia da seu nascimento), período em que leem e divulgam textos e livros do velho Jack (apelido pelo qual Lewis era chamado por seus amigos). 

  Para divulgar a vasta e relevante obra de C. S. Lewis, no meio acadêmico brasileiro, que a Semana C. S. Lewis do Ceará 2012 vai acontecer, com a realização de quatro palestras, nos dia 26, 27, 28 e 29 da próxima semana. Essa será uma oportunidade única de ir "além do guarda-roupa".